Incluídos ajudam a excluir, por Pedro Luiz Rodrigues

Incluídos ajudam a excluir, por Pedro Luiz Rodrigues

Em 22 de novembro de 1998 - há pouco mais de dezenove anos, portanto -  fi publicado artigo meu no jornal O Estado de São Paulo, sob o título "A grita dos Incluídos", para fazer premeditado contraste com as manifestações anuais do "Grito dos Excluídos" que iniciadas em 1995, chegam até aos dias de hoje.  

O movimento do Grito dos Excluídos busca dar visibilidade àqueles que são marginalizados da sociedade por conta de inúmeros mecanismos, leis e práticas (inclusive a da corrupção que recheia malas e a vaidade vazia de nossa dirigência política), denunciando os mecanismos sociais de exclusão e propondo caminhos alternativos para uma sociedade mais inclusiva.

Repito aqui, trechos do que escrevi então e que cabem à perfeição ao que vem hoje ocorrendo no País, quando se vê funcionários graduados do Estado, privilegiados a não mais poder,  reagir de maneira brutal à perspectiva de verem  diminuir suas regalias.

"Incluir os excluídos é questão que no Brasil merece inegável prioridade. Resolver o problema das injustiças sociais ou pelo menos minorá-lo significativamente, não será, contudo,  tarefa fácil.  Se por um lado não há quem se diga contrário à justiça social, poucos são os incluídos que estão dispostos a ceder, para distribuir, parte pequena que seja, das vantagens advindas dessa inclusão. Essa reação à redistribuição de renda e de direitos sociais tende a ampliar em momentos como o que atravessamos, de desaceleração da atividade econômica".

 "Não é por outra razão que tão lentamente avançam os programas de reforma estrutural no País. Os privilégios dos incluídos estão espalhados por toda parte, na forma de isenções e benefícios de toda natureza: estabilidade de emprego, aposentadorias recebidas sem que tivesse havido a contribuição correspondente, aposentadorias precoces, férias prolongadas.  Nada disso é ilegal, está tudo previsto em lei, mas também não é legítimo. Os privilégios desses poucos é bancado pelos Tesouros da União, dos Estados, dos municípios, chamados entre risinhos de "as viúvas".  Na outra ponta, menos escolas, menos saúde, menor inserção social".

A estrutura de abusos que minam o caráter republicano da igualdade de oportunidades para todos não é composta apenas dos bando de salafrários que ocupou o sistema de poder no País, para se dedicar à corrupção. Gastam milhões em campanhas para tapear o povo humilde para depois, quando no poder, roubar-lhes o direito da educação, da saúde e da dignidade.

Muitos desses abusos, como já havia dito no artigo do fim do século passado, é legal, está nas leis escritas pelos mesmos que dela se beneficiam. Não se pode, portanto,  falar na criação de uma casta, como se coisa nova fosse, pois privilégios dos funcionário do Estado entre nós são herança antiga, do medievalismo português, reforçado no período colônias pelo autoritarismo de um lado, e a escravidão de outro, e ampliado num Império onde os dons Pedros distribuíam anacrônicos títulos de marquês, visconde, duques e conde, como se vivêssemos em pleno século XII em Portugal. E para tristeza nossa e azar do País, a situação pouco mudou com o advento da República.

Chegamos ao ponto em que funcionários que recebem verdadeiras fortunas dos cofres públicos - muito mais do que muitos países ricos pagam a funcionários nas mesmas funções - não tem  vergonha de reagir virulentamente em defesa de seus privilégios não só salariais mas de benefícios diversos (carros, motoristas, despesas pagas, salões suntuosos para trabalhar - nesse aspecto as salas do STF são, por luxo e metro quadrado, imbatíveis - férias e recessos abundantes, aposentadorias integrais e estabilidade de emprego.

Nada se modifica no Brasil por razão do egoísmo míope de pessoas vaidosas, cuja principal medida de valor é o quanto juntam de dinheiro e o quanto se distanciam do povo, dos milhões de desempregados e de suas famílias lançadas à indigência e à prostituição.

Pedro Luiz Rodrigues é jornalista e diplomata. Artigo publicado originariamente no site Diário do Poder


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