O drama do analfabetismo no Brasil, por Nelson Valente

Temos algo em termo de 40 milhões de analfabetos adultos.

A educação brasileira é um dos tristes marcos do período republicano e nos três últimos governos. E talvez venha a repetir o mesmo ciclo de frustrações no atual governo.

O assunto é recorrente e retorna, quando estamos às voltas com a revolução da educação, discutindo sua gênese e os seus objetivos.

No mundo inteiro, o Brasil ocupa uma das posições mais negativas em matéria de analfabetismo. Em termos de adultos, temos algo em termo de 40 milhões de analfabetos. Se agregarmos a esse número, que já não é pequeno, aqueles que são semianalfabetos, telvez cheguemos a um recorde internacional, alcançando quase 140 milhões de brasileiros.

Por aí se vê que meios e modos convencionais de tratar o problema do analfabetismo jamais podem surtir efeito. É preciso que haja, na verdade, um tratamento de choque. Defendi outro dia, a utilização e o pleno emprego de tecnologias educacionais em nossa relação ensino/aprendizagem. O uso mais adequado do rádio, do cinema, da televisão e do computador. Temos um satélite doméstico de telecomunicações, que não está utilizando a sua capacidade ociosa para servir a educação, o que é profundamente lamentável.

Um outro satélite, o Brasilsat, lançado a um custo de 750 milhões de dólares. Sabemos que os 48 canais que compõe o conjunto dos dois satélites, também têm espaços ociosos.

Os pais devem considerar o livro como um instrumento com que a criança tenha um relacionamento íntimo, no qual vai aprender lições que ajudarão muito na sua formação posterior. Se uma criança não possui o gosto pela leitura na infância, na adolescência ou na fase adulta as coisas se tornarão difíceis. Criar o hábito (ou gosto) pela leitura é um primeiro passo que depende basicamente de pais e professores. Há uma idade para isso, que infelizmente para os calouros não coincide com os seus 17 ou 18 anos. Começa antes, na altura ainda do ensino fundamental. Depois, é só alimentar a cabeça de bons produtos, a fim de que persista o interesse.

O bom professor, que estimula o gosto de ler, promove a leitura acompanhada, dialogada, comentada, leitura a dois etc., para identificar com os alunos a existência de uma obra de arte literária. Quando ocorre a descoberta, não há dúvida, estamos diante do intrincado e maravilhoso mundo da literatura. 

O pré-escolar é o grande momento onde deve haver um estímulo à leitura. Essa relação deve ser bem natural, e de forma lúdica, tanto em casa quanto na escola. Mas temos uma grande preocupação com o que a criança realmente deseja. Afinal, o que ela pensa sobre os títulos que estão à sua disposição? Sendo ela a maior interessada, é justo que se faça um levantamento nacional sobre as aspirações do nosso público infanto-juvenil, isso evitaria o pseudodidatismo que pode ser detectado em muitas obras.

O que fazer para os estudantes leiam mais? A resposta não é tão simples. Os professores podem, discretamente, variar a oferta literária, entendendo que literatura não é língua somente. A leitura da obra literária, luxuosa ou não, é o ponto de partida ou regra de ouro do ensino de letras, que lidará com gêneros ou tipos conhecidos desde Aristóteles. Assim são criados os fundamentos literários para trabalhar o lirismo, a narrativa ( conto, romance, epopéia etc.) e outros tipos, como as memórias, o diário, a máxima, identificar o gênero é um primeiro e fundamental exercício, a que se deve somar o exame da estrutura da narrativa: enredo, personagem, tempo, ordem de relato, suspense, apresentação e desfecho.

Senhor ministro da Educação e Senhor Presidente da República:

 Morreu, neste início de século e de milênio, a educadora Branca Alves de Lima, aos 90 anos, deixando órfãos aqueles que acreditam que a alfabetização com cartilhas não só funciona muito bem como é mais simples do que essa "moda" atual do construtivismo.

A vida de Branca Alves de Lima, autora da cartilha 'Caminho Suave', é a síntese de um dos principais males - se não do principal mal - da Educação brasileira: o enorme desrespeito dos gestores e das políticas públicas educacionais em relação aos professores e professoras, aos estudantes e suas famílias.

O sucesso da cartilha 'Caminho Suave'. 'Eles (o governo, o MEC e o Guia do Livro Didático, o Conselho Nacional de Educação, as secretarias de Educação etc.) estão projetando, quase decretando, que os alunos não usem mais cartilhas.

Veja hoje o caso dos ciclos. Professores e professoras que há décadas têm na reprovação seu principal recurso de disciplina foram, de uma hora para outra, proibidos de usá-la. Mesmo com a proibição e à margem do Currículo Escolar, avós, pais, parentes, amigos e professores, indicam a cartilha 'Caminho Suave', na alfabetização de seus entes queridos.

Branca Alves de Lima concebeu, em meados do século passado, a cartilha 'Caminho Suave', que vendeu cerca de 40 milhões de exemplares desde então. Mais de 48 milhões dos brasileiros adultos de hoje foram alfabetizados por ela.

 

 Nelson Valente é professor universitário, jornalista e escritor. Artigo originariamente publicado no site Diário do Poder


publicidade
publicidade
publicidade
publicidade
publicidade
publicidade
publicidade
publicidade


EDITORIAS
Logo Adjori BR rodapé.fw.png

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE JORNAIS DO INTERIOR DO BRASIL

SRTVS Quadra 701, Conjunto E - Bloco 01, nº 12, sala 209 - Brasília - DF  |  (061) 3964-1647  |  CEP 70340-902

brasilia@adjoribrasil.org.br  |  presidencia@adjoribrasil.org.br  |  editorial@adjoribrasil.org.br