Qualificação de trabalhadores é estratégia para retomada do crescimento econômico, diz Rafael Lucche

Em artigo, diretor-geral do SENAI defende ampliação do acesso a cursos de educação profissional. Pesquisa recente mostra que emprego e profissão estão na lista de aspirações dos jovens brasileiros

 O dado de que emprego e profissão desejados lideram a lista de aspirações dos jovens brasileiros revela um novo Brasil em construção. Pesquisa recente publicada pelo Instituto Datafolha indica uma preocupação da juventude com o próprio futuro. Por outro lado, é impossível negar os impactos coletivos desse novo cenário. Outros números, inclusive, apontam para realidade semelhante. A pesquisa Transições da escola para o mercado de trabalho de mulheres e homens jovens no Brasil, da OIT, avalia que os jovens brasileiros são trabalhadores e, parte significativa deles, tem se esforçado para combinar trabalho e estudo. Com menos experiência e, em geral, pouca qualificação profissional, eles são os que sofrem primeiro quando o mercado de trabalho piora. Essa maior dificuldade para colocar em prática projetos de vida parece ter ensinado ao Brasil uma lição: é preciso estar mais bem preparado para o mundo do trabalho. O impacto coletivo dessa mudança de percepção pode ser visto também com a nova cara dos estudantes do ensino médio.

A maior chance de conquistar um emprego e um bom salário aumentou o interesse dos estudantes em relação ao ensino técnico de nível médio. Dados do Censo da Educação Básica, analisados pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), mostram aumento de 55,3% no número de matrículas nesses cursos, passando de 927.978 em 2008 para 1.441.051 em 2013.

Historicamente, a procura por cursos de formação profissional segue uma lógica anticíclica – a procura cresce mais quando o mercado de trabalho não apresentava bom desempenho. Os trabalhadores buscavam se qualificar para manter ou conseguir novo emprego, ou seja, pela necessidade de elevar/manter a sua empregabilidade.

Na última década, quando foram registrados baixos índices de desemprego no Brasil, essa dinâmica parece ter sido rompida, uma vez que a sociedade brasileira começou a mudar a sua percepção sobre a educação profissional, entendendo que ela pode ser o caminho mais curto para a inserção, com qualidade, no mercado de trabalho. Em outras palavras, mesmo com o mercado de trabalho ativo, houve expansão significativa da procura por cursos, motivada principalmente pela falta de mão de obra especializada e pela necessidade de atualização tecnológica, além – é claro – do entendimento que o trabalho abre a perspectiva da mobilidade social.

O aumento do interesse na educação profissional é importante e aponta que estamos no caminho certo da valorização da educação profissional, mas ainda é pouco se comparado a outras nações. Países da União Europeia, em 2010, segundo o Centro Europeu para o Desenvolvimento da Educação Profissional, tinham em média 49,9% dos estudantes do ensino secundário também matriculados na educação profissional. Na Áustria, por exemplo, que registra o índice mais alto, 76,8% dos estudantes do secundário fazem ensino técnico. Finlândia vem em seguida com 69,7% e Alemanha com 51,5%. No Brasil, esse índice alcançou os 7,8% em 2013.

A educação profissional melhora o ambiente de negócios, podendo ser um parâmetro importante para decisão de novos investimentos por empresários. Na perspectiva do trabalhador, a qualificação pode reduzir o risco de desemprego ou, ao menos, reduzir o tempo de permanência fora do mercado de trabalho.

Em um momento de arrefecimento do mercado de trabalho, como o atual, não se pode abrir mão da qualificação de trabalhadores, estejam eles empregados ou não. Essa é, inclusive, uma estratégia para facilitar a retomada de crescimento do país. Um técnico que será contratado para preencher uma vaga em 2017, por exemplo, deve começar a se qualificar hoje. Os jovens já tem nos dado o exemplo. Agora, cabe à geração madura do Brasil nos governos e setores produtivos seguir seu exemplo e fazer a aposta correta.

Rafael Lucchesi é diretor-geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI)
Artigo publicado originalmente na quarta-feira (29), no site do jornal Folha de S. Paulo.


publicidade
publicidade
publicidade
publicidade
publicidade
publicidade
publicidade
publicidade


EDITORIAS
Logo Adjori BR rodapé.fw.png

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE JORNAIS DO INTERIOR DO BRASIL

SRTVS Quadra 701, Conjunto E - Bloco 01, nº 12, sala 209 - Brasília - DF  |  (061) 3964-1647  |  CEP 70340-902

brasilia@adjoribrasil.org.br  |  presidencia@adjoribrasil.org.br  |  editorial@adjoribrasil.org.br